EXPRESSÃO & ARTE por Francisco Souto Neto. Curitiba, 28 a 30 out. 1989, p. 20.

Jornal INDÚSTRIA & COMÉRCIO. Curitiba, 28 a 30 out. 1989, p. 20.

EXPRESSÃO & ARTE

Francisco Souto Neto

Lúcia Helena e Nilton Maia com suas mulheres eternas e do cristal

A Galeria de Arte Ida & Anita, em comemoração ao 20º aniversário da sua fundação, inaugurou no último dia 18, uma exposição com pinturas de Lúcia Helena e esculturas de Nilton Maia.

Lúcia Helena Redig de Campos, muito adequadamente, denominou sua mostra de “Essas mulheres eternas”. É que sua pintura consegue dar às mulheres algo de atemporal, seja no vestuário, seja no clima de muitas das telas que nos remetem ao Renascimento. Daí, a sensação de eternidade. Mais que isso, essa mulheres de dedos rafaelescos, com as mãos quase sempre envolvendo flores, afagando animais ou delicadamente sustentando pássaros, ou ainda ocupadas com instrumentos musicais, levam-nos a uma atmosfera de emoção e de intrigante mistério.

É Aurélio Benitez quem assina o catálogo: “Variações emotivas que parecem abranger desde a perplexidade até uma alegria inesperada. Esta é uma das principais características da pintura da artista plástica Lúcia Helena Redig de Campos. (…) Diante de suas figuras nossos pensamentos são transportados para épocas que se nos apresentam estranhas, desconhecidas. (…) As cores com campos bem delimitados contribuem para que esse ambiente com toques majestáticos domine totalmente as telas. Não se pode duvidar que existe na arte desta pintora pernambucana um sabor filosófico. Mas é uma filosofia que não tem parâmetros ou metas. Quem vai interpretá-la e defini-la é o próprio espectador através da sua cultura, sensibilidade ou mesmo estado de espírito”.

Pintura de Lúcia Helena. Coleção Souto Neto.

A mostra se completa com as “Mulheres do Cristal”, esculturas de Nilton Maia. O trabalho do escultor é feito em terracota, e o nome dado à exposição refere-se ao bairro do Cristal, de Porto Alegre, donde provém a matéria-prima da sua obra.

Essas mulheres, de corpo inteiro ou apenas o busto, em tamanhos variados, são opulentas, gordas mesmo, mas todas com expressões doces e delicadas. É Nydia Guimarães, de Canela, RS, quem define esse trabalho: “Gosto das esculturas do Maia. Principalmente as mulheres. A placidez, a tranquilidade, o olhar perdido no infinito, a força telúrica que irradiam. É a eterna espera feminina, a condição primeira da mulher. Elas me transmitem paz”.

As peças poderão ser adquiridas na Ida & Anita.

Ilustração: Tela de Lúcia Helena Redig de Campos

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Na Galeria Banestado, a “Década” de Anita Zippin

A jornalista e advogada Anita Zippin Monteiro da Silva reuniu 58 das crônicas que nos últimos dez anos escreveu e publicou em jornais curitibanos, tais como o Indústria & Comércio, Jornal do Estado e Gazeta do Povo, enfeixando-as num livro que denominou “Década”, lançado na Galeria de Arte Banestado na semana passada, em noite de autógrafos que movimentou a intelectualidade paranaense.

O que torna agradável a leitura de “Década”, é a universalidade de assuntos abordados pela autora, e a maneira como ela se adentra nos variados temas, e como os desenvolve: ora a forma apresentada é a de uma prosa poetisada, ora enquadra-se na severidade da denúncia e da crítica. Seja, porém, na análise de um determinado momento político, seja nas reflexões sobre a vida e a morte, ou em qualquer outro instante, a crônica de Anita Zippin flui autêntica, verdadeira, plena de sentimento e de sinceridade, exatamente à imagem da autora.

Vasco José Taborda, que assina uma das orelhas do livro, diz com propriedade: “As crônicas são esboços de vida: trazem muita vivência e nela encontramos seres de caracteres variados. O dia-a-dia é que nos dá o gosto pelo imprevisto, aquilo que não se espera e no que não se pensou sequer (…). Este livro de Anita Zippin, de verdadeiros informes jornalísticos, pequenas crônicas, dá-nos ideia do seu valor literário e humano”.

Anita Zippin. Foto Souto Neto.

O prefácio, sob título “Apresentação”, vem assinado pelo marido da autora, Marco Antônio Monteiro da Silva: “Apresentar um livro é coisa para literato, para quem conhece as letras e estilos. Com certeza não é para mim. Explicar, por outro lado, é bem mais fácil, principalmente para alguém, como eu, que assiste ao nascimento da coisa, desde o momento da sua concepção. Com Anita, aconteceu sem qualquer aviso prévio e sem qualquer premeditação. Aconteceu como que por acaso. Ou por tradição. (…) Anita foi evoluindo, marcando presença, definindo as características desse trabalho que abraçou com dedicação, estoicismo e seriedade (…)”.

A noite de autógrafos aconteceu na noite seguinte à inauguração da mostra de Glauco Menta na Galeria de Arte Banestado, promovendo um verdadeiro intercâmbio entre a literatura e as artes plásticas. Vale acrescentar que a Galeria Banestado, gerenciada por Vera Munhoz da Rocha Marques, com a participação de Clarissa Lagarrigue, tornou-se um dos mais importantes pontos da capital paranaense para o lançamento de livros de grandes autores, dos quais Anita Zippin é um exemplo marcante.

Ilustração: Anita Zippin. Foto Alice Varajão.

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A Brecailo: Arte no Shopping

Como parte do projeto cultural da Caixa Econômica Federal, Maria Lourdes Brecailo está expondo no Shopping Center Mueller. Parece-me louvável a ideia de levar-se a arte aos corredores do Shopping Center para que atinja uma parcela de pessoas não afeitas ao hábito de visitar galerias de arte. Às vezes o passante se detém, olha a obra exposta e começa a descobrir o universo das artes plásticas.

Maria Lourdes Brecailo.

A Brecailo está expondo trabalhos de duas fases diferentes; em ambas, entretanto, está presente a exuberância das cores tropicais. É Helenita Marzall quem assina o catálogo: “(…) Maria Lourdes Brecailo nos apresenta nesta mostra duas fases. Na primeira delas, monotipias, onde a artista é suave, doce, cúmplice das cores que se expandem. Na fase seguinte, passa ao domínio exigente dos materiais em técnica mista. São formas e cores fortes que se impõem e se projetam além do plano, assumindo a sensibilidade como força de transformação, a arte como ação política”.

A mostra poderá ser vista até o próximo dia 31.

Ilustração: Maria Lourdes Brecailo com monotipia.

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A Serra do Mar de Zig Koch

O Palacete Leão (Centro Cultural IBM) está expondo fotografias de Zig Koch (Ricardo Koch Cavalcanti), cujo tema são a fauna e a flora da Serra do Mar.

Resultado de um trabalho que se estendeu ao longo de 18 meses, a mostra tem caráter ecológico e se completa com textos de Tereza Urban, e um vídeo enfocando aspectos do equilíbrio ambiental da Serra do Mar.

Dentro desse mesmo tema, Zig Koch já teve participação em três livros, e suas fotos foram publicadas na revista de bordo Ícaro.

Sem dúvida a sensibilidade do fotógrafo é apuradíssima e o resultado, materializado nas fotografias, encanta tanto pelos grandes planos mostrando o esplendor da silhueta da serra, quanto pelos detalhes obtidos através da macrofoto, e dos closes de pássaros, insetos, folhas e fungos.

Fotografia de Zig Koch é requintada, cuidadosa, e toda calcada num profundo significado de ecologia e de respeito por todas as formas de vida. Disse-me Zig: “Quando fotografo a natureza, faço porque amo e para que as pessoas que vejam, sintam um pouco do que senti”.

Essa exposição que se tornou realidade graças ao apoio do Banestado, poderá ser vista e admirada até o próximo dia 31.

Ilustração: Perfil da Serra do Mar. Foto Zig Koch.

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Lusco-Fusco em atividades contínuas

Embora não me tenha sido possível assistir à última montagem do Lusco-Fusco Teatro Laboratório do SESC da Esquina, “Starkare”, sob a direção de Carlos Manuel, não poderia omitir-me a elogiar as atividades e os esforços desse grupo teatral.

Há que se estimular e apoiar os grupos que com idealismo e dedicação se empenham nesse segmento tão importante e fundamental da cultura: o teatro.

Ao Lusco-Fusco os meus cumprimentos, com votos de atividades permanentes e crescimento contínuo.

Ilustração: Montagem de “Starkare”, do Grupo Lusco-Fusco.

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Sobre francisco souto neto

ATENÇÃO! CUIDADO! EM 17.4.2021 FORAM FURTADOS MEUS DADOS PESSOAIS (FRANCISCO SOUTO NETO): CPF, IDENTIDADE, DADOS BANCÁRIOS. EU NÃO FAÇO EMPRÉSTIMOS NEM FINANCIO NADA. NÃO COMPRO A PRAZO E NÃO UTILIZO CARTÃO DE CRÉDITO. QUALQUER TENTATIVA DE CONTRATOS EM MEU NOME, FAVOR CHAMAR A POLÍCIA. O comendador Francisco Souto Neto trabalhou no extinto Banco do Estado do Paraná S.A. até aposentar-se, onde exerceu as funções de inspetor, assessor da diretoria, da presidência e para assuntos de cultura. Filho do jornalista e radialista Arary Souto (1908-1963) e Edith Barbosa Souto (1911-1997), é advogado, jornalista e crítico de arte, com colunas em jornais e revistas desde os anos 70. Tem integrado diretorias e conselhos consultivos e administrativos de diversas entidades, sobretudo de órgãos oficiais ligados à cultura paranaense. Foi-lhe outorgado o título de Comendador pela Associação Brasileira de Liderança (São Paulo). Recebeu o "Troféu Imprensa do Brasil 2014" e também o "Prêmio Excelência e Qualidade Brasil 2015" na área da Cultura, como “Destaque entre os melhores do Brasil”. Em novembro de 2016 recebeu mais uma vez o Troféu Imprensa Brasil, seguido do Prêmio Cidade de Curitiba, e ainda do Top of Mind Quality Gold. É membro da Academia de Letras José de Alencar, em Curitiba, onde ocupa a Cadeira Patronímica nº 26.
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