EXPRESSÃO & ARTE (Engenho & Arte) por Francisco Souto Neto. Curitiba, 7 a 9 jan. 89. p. 15.

Jornal INDÚSTRIA & COMÉRCIO. Curitiba, 7 a 9 jan. 1989. p. 15.

EXPRESSÃO & ARTE

Francisco Souto Neto

 

Os pássaros de Rogério Dias

          Na metade da semana, após as 18 horas, e sob muita chuva, acorri à Casa Romário Martins para ver a exposição de Rogério Dias, onde, numa feliz casualidade, encontrei-me com a crítica de arte Adalice Araújo. Em contraponto ao triste cinza do fim de tarde chuvoso, as paredes exibiam a extraordinária beleza e o brilho do trabalho de Rogério.

          O artista plástico está expondo obras em técnicas diversas: desenhos, linoleogravuras, guaches, aquarelas, óleo (ou acrílica) sobre tela, uma gravura em metal e até esboços a lápis. Os trabalhos compreendem o período de 1983 a 1988, e servem para mostrar que no princípio Rogério já esbanjava talento e delicadeza nos seus personalíssimos pássaros, que evoluem até à atualidade num crescendo de fulgurante beleza.

          Nos desenhos mais antigos os pássaros são às vezes estilizados; nos mais recentes as aves ganham um ar divertido e encantador.

          A maior surpresa que nos revela a mostra, contudo, está nas figuras humanas em movimento e nos rostos de traços fortes, expressão pouco conhecida do trabalho de Rogério Dias.

          A exposição não conta com catálogo, ou algum folheto contendo notas a respeito do artista, o que é uma pena, pois priva, àqueles que não o conhecem, de alguma orientação sobre a trajetória da arte de Rogério. Não há também tabela de preços das peças à venda, embora a mostra seja comercial. O que há de escrito, aparentemente na letra do próprio Rogério, numa demonstração de bom gosto e requinte literário, é a transcrição de um fragmento de palavras de Riobaldo, personagem de Guimarães Rosa em “Grande Sertão: Veredas”, onde são enaltecidos o otimismo, a coragem e a alegria, numa simbiose perfeita com o trabalho de Rogério e o espírito da mostra.

          A exposição deverá permanecer até finais do corrente mês, e merece ser visitada por colecionadores e investidores.

Ilustração: Tela de Rogério Dias.

À memória de Yara

            Copacabana, que no último réveillon dava ao Brasil e ao mundo o seu tradicional espetáculo da queima de fogos de artifício, assistiu à tragédia que enlutou dezenas de famílias e estarreceu todo o país: o naufrágio do Bateau Mouche, já tão noticiado pela imprensa.

            A irresponsabilidade mais uma vez ceifou vidas, todas preciosas. Na dor e na morte todos se igualam; porém, quando são artistas que morrem, a comoção se amplia. É que a eles, particularmente os artistas do palco, cinema ou televisão, costumamos atribuir a magia da concretização dos nossos sonhos, pois muitas vezes as suas personagens são o nosso próprio espelho, ou o reflexo das nossas idealizações.

            Todos já sabemos que Yara Amaral foi levada para sempre. Se a arte perdeu a grande atriz, detentora de três prêmios Molière e elogiada pelo seu alto profissionalismo, os amigos, ou aqueles que puderam de algum modo ou em algum momento privar da sua intimidade, perderam uma pessoa autêntica e de espírito brilhante.

            Apesar de laureada, respeitada e conhecida em todo o País, Yara não se considerava uma “estrela” e achava, com justa razão, que o espectador brasileiro deveria habituar-se a ir ao teatro não para ver “os artistas da novela”, mas atores atuando em peças inteligentes. Yara tinha um sorriso franco, sincero, e pessoalmente era muito mais jovem e bonita do que as personagens sérias e sofridas às quais estávamos acostumados a vê-la interpretar. Mas era a sua beleza interior que parecia transcender a tudo.

          Lembrei-me agora de que, recentemente, me disse Henriqueta Brieba, amiga de minha mãe, que era amicíssima de Yara: “Não costumo dizer que sinto saudade dos amigos. Os amigos estão todos aí, no mínimo ao alcance do telefone. Saudade é para aqueles que já partiram e nunca mais voltarão”.

          É, pois, com saudade de Yara que compus o seguinte soneto:

Saudade de Yara Amaral

 

Yara simples, autêntica,

Capaz de chorar e amar

        Mãe atenta, amiga idêntica…

(Réveillon em alto mar!)

 

Yara atriz e mulher

         Nos palcos representando

             À altura dos seus “Molière”…

            (Gritos no barco adernando!)

 

A realidade é dura:

             Pensa em filhos, amizades…

     (Yara na água escura!)

 

                  Não mais luz, nem céu de anil:

     Tristezas pelas cidades

            Das terras do meu Brasil!

Ilustração: Em 1982, Henriqueta Brieba e Yara Amaral, em Curitiba, ladeando Edith Barbosa Souto, mãe deste colunista. Foto de Souto Neto.

Os talentos que o Banestado revela

          Na última sexta-feira dia 6, Carlos Antônio de Almeida Ferreira, presidente do Banestado, inaugurou o VI SBAI – Salão Banestado de Artistas Inéditos, em meio às expectativas de centenas de convidados e artistas plásticos participantes, que desejavam conhecer os nomes dos premiados. É que, tradicionalmente, só na noite inaugural são revelados os nomes dos artistas laureados.

          Assim, o 1º prêmio coube a Edilson de Carvalho Viriato, o 2º a Suene Oliveira Santos e o 3º a Donizethe Aparecido Barbosa. A comissão julgadora (Tereza Koch, Cláudio Seto e Marcos Bento) concedeu também seis menções especiais para: Annemarie Müeller de Fernandez, Clélia Saldanha de Almeida, Laércio Redondo Júnior, Roberto Yabe, Rubens Faria Gonçalves e Wilma Vanessa Wambier.

          Os demais artistas classificados no VI SBAI são: Aglaê Ferreira L. Jabur, Almir Correia, Cíntia Pádua Leite Ribas, Cristina Silva Souza, Edilamar Gonçalves, Elani Maria Paludo, Elida Eli Cogo, Irene Aparecida Almeida Anizelli, Juliana Ferreira Vieira, Kátia Freitas Danielides, Kiko Kaminari Shibayama, Léa Innocêncio Bueno, Léa Mara Martins de Oliveira, Lory Maria Battisti Archer, Luiz Antônio Arantes, Malke Terezinha Edde Lima, Márcia Bertin, Márcio Bueno de Souza, Marco Aurélio Silveira, Marilza Martins Baptista de Deus, Maria de Lourdes M. Curto, Marta Sansônio de Freitas, Mauro Scaramuzza Filho, Nair de Souza Pinto, Nésia Pinheiro de Machado Gaia, Reginaldo Fava Ribeiro de Carvalho, Rosângela Fátima de Andrade, Sérgio Monteiro de Almeida, Sílvia Regina Moreira Pereira, Soyen de Castro Sabóia Amaral, Tânia Regina Machado, Telma Regina Coimbra Serur, Valdomiro Moreira, Wilson Pereira.

          No próximo sábado, Engenho & Arte estará fazendo a crítica ao VI SBAI.

Ilustração: Laércio Redondo Júnior, de Londrina, menção especial.

Concurso Gralha Azul de Literatura

            Depois da Lei de Diretrizes e Bases, as escolas e por extensão as Universidades, passaram a formar legiões de desinformados em língua portuguesa. Somem-se os preços cada vez mais inacessíveis dos livros, e o resultado é uma população empobrecida em termos culturais.

            Tudo isso faz com que os concursos de literatura mereçam os aplausos pelo estímulo que representam à correção e criatividade no nosso idioma, e cumprem o papel daqueles que conseguem burilar o intelecto, sobrepondo-se à massa.

          Na semana passada divulguei o Concurso Nacional de Contos – Prêmio Paraná, e agora, com satisfação, refiro-me ao Concurso Gralha Azul de Literatura, criado pelo jornalista Alcy Ramalho Filho. A soma de ambos os certames serve para ampliar o leque de possibilidades e de oportunidades para os interessados.

          O Gralha Azul de Literatura, lançado em nível nacional em junho último, é promovido pelo Banestado, notadamente pelo presidente Almeida Ferreira e pelo vice-presidente Sérgio Miguel de Souza, e também pela Ibéria. Suas inscrições foram prorrogadas para até 30 de abril deste ano. Os prêmios de duas viagens à Europa na alta estação, voando pela linha espanhola Ibéria, são altamente motivadores.

          Os interessados em concorrer com contos, terão que apresentar um máximo de 25 páginas datilografadas em papel ofício, com 30 linhas em cada página e em cinco vias. Na categoria monografia, os trabalhos terão que ter entre 30 e 60 páginas.

          Maiores detalhes devem ser solicitados na Rua Machado de Assis, 462, Juvevê – Curitiba, ou pelo fone (041)252-8223 ou telex 0693(41).

Ilustração: Alcy Ramalho Filho, idealizador do Gralha Azul de Literatura.

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Sobre francisco souto neto

ATENÇÃO! CUIDADO! EM 17.4.2021 FORAM FURTADOS MEUS DADOS PESSOAIS (FRANCISCO SOUTO NETO): CPF, IDENTIDADE, DADOS BANCÁRIOS. EU NÃO FAÇO EMPRÉSTIMOS NEM FINANCIO NADA. NÃO COMPRO A PRAZO E NÃO UTILIZO CARTÃO DE CRÉDITO. QUALQUER TENTATIVA DE CONTRATOS EM MEU NOME, FAVOR CHAMAR A POLÍCIA. O comendador Francisco Souto Neto trabalhou no extinto Banco do Estado do Paraná S.A. até aposentar-se, onde exerceu as funções de inspetor, assessor da diretoria, da presidência e para assuntos de cultura. Filho do jornalista e radialista Arary Souto (1908-1963) e Edith Barbosa Souto (1911-1997), é advogado, jornalista e crítico de arte, com colunas em jornais e revistas desde os anos 70. Tem integrado diretorias e conselhos consultivos e administrativos de diversas entidades, sobretudo de órgãos oficiais ligados à cultura paranaense. Foi-lhe outorgado o título de Comendador pela Associação Brasileira de Liderança (São Paulo). Recebeu o "Troféu Imprensa do Brasil 2014" e também o "Prêmio Excelência e Qualidade Brasil 2015" na área da Cultura, como “Destaque entre os melhores do Brasil”. Em novembro de 2016 recebeu mais uma vez o Troféu Imprensa Brasil, seguido do Prêmio Cidade de Curitiba, e ainda do Top of Mind Quality Gold. É membro da Academia de Letras José de Alencar, em Curitiba, onde ocupa a Cadeira Patronímica nº 26.
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