EXPRESSÃO & ARTE por Francisco Souto Neto. Curitiba, 13 e 14 out. 1990. p. 14, e revista CHARME nº 43, out. 1990.

Jornal INDÚSTRIA & COMÉRCIO. Curitiba, 13 e 14 out. 1990. p. 14.

EXPRESSÃO & ARTE

Francisco Souto Neto

Toda a delicadeza do mundo com Didonet Thomaz, na Sala Theodoro De Bona

Didonet (Vera Lúcia Didonet Thomaz) inaugurou a exposição “O Ronco da Solidão” na Sala Theodoro de Bona (Rua Emiliano Perneta, 29), anexa ao MAC – Museu de Arte Contemporânea.

Infelizmente não pude aceder ao convite de Didonet para, alguns dias antes da abertura da mostra, ir ao local onde estavam as suas obras. Assim, antes da montagem do MAC, a artista pôde falar do seu trabalho  e mostrar o “avesso” do mesmo, cujas costuras também contam histórias.

É que Didonet trabalha desenhando e bordando ao mesmo tempo. Compreendi melhor quando visitei sua exposição. Em princípio, a extraordinária delicadeza do suabilíssimo desenho faz parecer estarmos vendo uma renda rara e primorosa; no momento seguinte, descobrimos tratar-se  de desenhos, estamparias e “colagens”, mas verdadeiramente costuradas ao seu suporte.

Obra incrível, caleidoscópica, cada trabalho de Didonet aprisiona o observador nas suas tramas. São doze trabalhos num total de oitenta e seis peças, e ainda o figurino feito pela estilista Verônica França, artista convidada como criadora da peça do vestuário denominada “verônica”, que foi usada por Didonet na noite da abertura da exposição, e que se encontra exposta juntamente com os delicados lenços. A bula que acompanha um desses lenços diz, nas palavras de Didonet: “Ao extrair do desenho O Homem do Fundo do Copo (3º da série O Ronco da Solidão, pertencente ao legado gráfico do Teatro Monótono) um ramo de rosas para que fosse suado numa cambraia, por uma mulher da secreta sociedade das verônicas, acreditei lembrar uma antiga referência bíblica. Este ato profano e religioso contido no lenço, foi por isso mesmo chamado ‘verônica’. O ato ‘verônica’, feito pela artista Verônica França, lembra a Verônica bíblica ao enxugar o rosto de Cristo”.

Posso dizer, independente do detalhe acima referido, que existe uma religiosidade universal no arte de Didonet. Os trabalhos maiores são todos calcados nas suas memórias que se fazem de ambientes familiares antigos, de livings compostos por móveis de estilo, cercados de um minucioso trabalho gráfico – cheio de superposições costuradas – que nos reporta à magia. Lewis Carroll se encantaria com o universo fantástico de Didonet Thomaz!

Didonet fecha o catálogo da sua exposição com as seguintes palavras: “Dedico este trabalho ao Thomaz, luminoso coração! Agradeço a todos, generosos deste mundo, que me permitiram avançar em minha busca de Arte, sem a qual a vida – teatro monótono – tem tido para mim cada vez menos sentido. Caminho há quarenta anos”.

Em Didonet, a pessoa e a artista se confundem. Em ambas as facetas interpostas, um exemplo raro de sensibilidade, magia e delicadeza!

Recomendo altamente “O Ronco da Solidão”, como um dos acontecimentos artísticos mais marcantes do ano. A exposição deverá ser vista (e revista) até dia 28 do corrente.

Ilustração: Didonet Thomaz com o lenço “verônica”.

Vem aí o VIII SBAI – Salão Banestado

O presidente do Banestado, Carlos Antonio de Almeida Ferreira, acaba de autorizar a realização do oitavo SBAI – Salão Banestado de Artistas Inéditos, que acontece ininterruptamente, todos os anos, desde 1983.

Naquele ano, Adão Vilmar de Oliveira e Elzi Zanotto Hohmann sugeriram ao então diretor do Banestado, Octacílio Ribeiro da Silva, que estudasse as possibilidades do apoio cultural do Banestado à realização de algum salão de artes plásticas. Na qualidade de assessor de Octacílio Ribeiro, coube-me idealizar o Salão, ideia que foi aprovada pelo presidente Léo de Almeida Neves. Voltei-o inteiramente ao artista iniciante, àquele que estivesse ainda lutando pela conquista de um espaço e de reconhecimento público. Convidei um colega do Banestado, Tadeu Petrin, para ajudar-me no processo de implantação do primeiro SBAI. As Galerias de Arte Banestado ainda não existiam. Consegui o espaço da Sala de Exposições do SENAC, e ali o I SBAI foi inaugurado pelo então presidente José Brandt Silva.

Não foi por acaso que o SBAI cresceu tanto em importância ao longo destes oito anos: projetei-o para que se tornasse um acontecimento artístico de grande relevância, e duradouro. E vi justificado o evento, a cada vez que as comissões julgadoras classificaram e premiaram artistas talentosos que, em anos posteriores, prosseguiram em ascensão no mundo das artes plásticas, conquistando novos prêmios em outros Salões, e conhecendo o sucesso de público e de crítica.

O discurso do Secretário de Estado da Cultura René Ariel Dotti ao ser inaugurado no ano passado o VII SBAI – Salão Banestado de Artistas Inéditos. A partir da esquerda, atrás de René Dotti: Carlos Antonio de Almeida Ferreira (presidente do Banestado), Francisco Souto Neto (Assessor de Presidente do Banestado). Vera Munhoz da Rocha Marques (administradora da Galeria de Arte Banestado) e Rosane Fontoura (administradora do Museu Banestado).

No dia 5 de novembro vindouro, estarão abertas as inscrições para o VIII SBAI. Os regulamentos estarão à disposição dos interessados no Museu Banestado e na Galeria de Arte Banestado, em Curitiba. No interior do Paraná, será encontrado nas Gerências Regionais do Banco, cujos endereços serão amplamente divulgados por toda a imprensa paranaense.

Vale acrescentar aos interessados, que devem ser inscritas duas obras, obrigatoriamente, cujas dimensões não podem ultrapassar um metro quadrado por unidade. E os prêmios para os três melhores alcançarão o valor correspondente a 1.000 BTN. A comissão julgadora que apreciará as obras do VIII SBAI será formada pelos artistas plásticos João Osório Brzezinski, Nelson Padrella e Denise Roman.

Ilustração: Há um ano, na inauguração do VII SBAI, o discurso do Secretário da Cultura René Ariel Dotti. Ao fundo: Carlos Antonio de Almeida Ferreira, Francisco Souto Neto, Vera Munhoz da Rocha Marques e Rosane Fontoura.

O catálogo “Artes Plásticas Brasil 90” revela a realidade do mercado e dos novos talentos

A Editora Inter-Arte Brasil acaba de lançar o 4º volume, com índice remissivo, da coleção de Júlio Louzada, “Artes Plásticas Brasil 90”. A obra reúne notas e dados biográficos de 5.453 artistas plásticos vendidos no Brasil. É uma obra utilíssima, porque consta não apenas de biografias de artistas plásticos, mas também de preços das obras de arte.

A ideia da sua elaboração adveio da necessidade dos marchands e leiloeiros possuírem uma referência segura sobre artistas e obras comercializadas, pois não havia até então, nenhum índice que informasse, em larga escala, e com precisão, a realidade do mercado. Aqui em Curitiba temos a “Bolsa de Arte”, publicada por Nery Baptista, obra regional singela que, entretanto, tem sido útil como disciplinadora do mercado de arte curitibano. A obra de Júlio Louzada, porém, é vastíssima, detalhista e em nível nacional. Segundo o próprio Louzada, “as coisas transitavam apenas no grito do leiloeiro e não em uma realidade pesquisada. A única publicação que existia, o Dicionário Brasileiro de Artistas Plásticos, de há muito já se acha esgotada. E desatualizada, pois sua edição é de 1973”.

Não havia, porém, registros sobre o valor de obras de arte e de trabalhos de artistas já falecidos. O registro era verbal e provinha também das observações dos leilões, mas não se difundia no mercado.

O catálogo passa a informar, nacionalmente, o preço efetivo das transações, tornando acessíveis os dados reais a qualquer pessoa que esteja interessada em adquirir obras de arte, mesmo colecionadores iniciantes.

A obra de Louzada oferece condições para se aferir que diferentes temas atingem valores variados, dependendo do artista. Pode-se saber também o valor que um determinado artista alcança nos vários pontos do Brasil. Para chegar-se a tal conclusão, o catálogo precisa ser interpretado. Dessa interpretação pode-se concluir, por exemplo, que o mercado paga mais por paisagens iconográficas do que por naturezas mortas, e que um retrato vale menos do que pintura de flores. Mas também mostra exceções.

Cada um dos quatro volumes é absolutamente inédito, porque quando o artista tem a sua nota biográfica publicada em um deles, no próximo volume ele terá apenas o complemento biográfico, de modo que a somatória dos textos produzirá a totalidade da sua carreira artística.

Em Curitiba, a obra de Júlio Louzada pode ser encontrada com a marchande e leiloeira Johanna Di Bernardi, diretora da Galeria de Arte Academus, na Alameda Cabral, 568, fone 232-1002.

Ilustração: O catálogo “Artes Plásticas Brasil 90”.

Na Acaiaca, a primavera chega com Dálio Zippin

Graças às atenciosas facilidades que me foram proporcionadas por Anita Zippin Monteiro da Silva e Lélia Brown, tive a oportunidade de ver, em primeiríssima mão, duas semanas antes da sua inauguração oficial, toda a coleção de fotografias que Dálio Zippin Filho está expondo na Acaiaca.

Aliás, é a segunda vez que a referida galeria cedeu o seu espaço para a realização de uma exposição de fotografias, o que foi justificado pelo trabalho de extraordinária beleza alcançado pelo fotógrafo.

Usando dos recursos da macrofoto, Dálio tomou as flores como tema, ocupando-se dos detalhes das mesmas, e mostrando-nos seus pistilos ou fragmentos de imagens: muitas vezes, para a objetiva de Dálio Zippin importou muito mais a cor ou a forma ondulada de um agrupamento de pétalas, do que a flor propriamente dita na sua integridade visual. Assim, a sensibilidade do fotógrafo revelou-nos uma explosão poética de cores e tons, chegando, numa ou noutra fotografia, a uma perfeita abstração.

As fotografias feitas pelo advogado Dálio Zippin são um estímulo ao exercício da criatividade, e um belo exemplo de como usar a câmera fotográfica a serviço da arte.

Ilustração: Dálio Zippin. Foto André Englisch.

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Revista CHARME

Ano IV – Outubro de 1990 – Nº 43

Capa:

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1ª página:

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EXPRESSÃO & ARTE para CHARME por Francisco Souto Neto:

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1ª matéria acima: RICARDO KRIEGER PINTA VENEZA

2ª matéria acima: RENATO PEDROSO COM ESCULTURAS NA GALERIA BANESTADO

3ª matéria acima: IVETE SANTOS: AQUARELAS COM PÁSSAROS E VIDA

4ª matéria acima: A PRIMAVERA NAS FOTOS DE DÁLIO ZIPPIN

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AS QUATRO MELHORES GALERIAS DE ARTE DE CURITIBA

por Francisco Souto Neto:

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Galeria de Arte Acaiaca (Jorge Carlos Sade)

Galeria de Arte Academus (Johanna Di Bernardi)

Studio R. Krieger (Ricardo Krieger)

Galeria de Arte Ida & Anita (Ida Axelrud e Anita Dimenstein Paciornik)

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Sobre francisco souto neto

ATENÇÃO! CUIDADO! EM 17.4.2021 FORAM FURTADOS MEUS DADOS PESSOAIS (FRANCISCO SOUTO NETO): CPF, IDENTIDADE, DADOS BANCÁRIOS. EU NÃO FAÇO EMPRÉSTIMOS NEM FINANCIO NADA. NÃO COMPRO A PRAZO E NÃO UTILIZO CARTÃO DE CRÉDITO. QUALQUER TENTATIVA DE CONTRATOS EM MEU NOME, FAVOR CHAMAR A POLÍCIA. O comendador Francisco Souto Neto trabalhou no extinto Banco do Estado do Paraná S.A. até aposentar-se, onde exerceu as funções de inspetor, assessor da diretoria, da presidência e para assuntos de cultura. Filho do jornalista e radialista Arary Souto (1908-1963) e Edith Barbosa Souto (1911-1997), é advogado, jornalista e crítico de arte, com colunas em jornais e revistas desde os anos 70. Tem integrado diretorias e conselhos consultivos e administrativos de diversas entidades, sobretudo de órgãos oficiais ligados à cultura paranaense. Foi-lhe outorgado o título de Comendador pela Associação Brasileira de Liderança (São Paulo). Recebeu o "Troféu Imprensa do Brasil 2014" e também o "Prêmio Excelência e Qualidade Brasil 2015" na área da Cultura, como “Destaque entre os melhores do Brasil”. Em novembro de 2016 recebeu mais uma vez o Troféu Imprensa Brasil, seguido do Prêmio Cidade de Curitiba, e ainda do Top of Mind Quality Gold. É membro da Academia de Letras José de Alencar, em Curitiba, onde ocupa a Cadeira Patronímica nº 26.
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