EXPRESSÃO & ARTE por Francisco Souto Neto. Curitiba, 28 e 29 jul. 1990, p. 14.

Jornal INDÚSTRIA & COMÉRCIO. Curitiba, 28 e 29 jul. 1990, p. 14.

EXPRESSÃO & ARTE

Francisco Souto Neto

“Expressão & Arte” agora também na Rádio Estadual do Paraná

Esta coluna passa por uma expansão: desde o dia 21 do corrente, iniciou a sua fase radiofônica. Tudo começou com uma ideia de Heron da Luz Trindade (assessor do secretário de Estado da Cultura, René Ariel Dotti, e presidente do Conselho Administrativo da Galeria de Arte Banestado de Curitiba) passada ao diretor-presidente da Rádio Estadual do Paraná e da TV Educativa Canal 9, Sale Wolokita, no sentido de que Expressão & Arte fosse levada ao ar, para alcançar um público novo, o rádio-ouvinte [e para depois ser expandida na forma de um programa para a televisão, a TV Educativa].

Veio-me, então, o convite de Sale Wolokita, que há muito planejava levar a arte aos ouvintes da Rádio Estadual. A possibilidade de multiplicar a mensagem de “Expressão & Arte” pareceu-me interessante, principalmente pelo fato de atingir outros segmentos da população e, quem sabe, abrir-lhes as portas para despertar-lhes a curiosidade ou, ainda melhor, o interesse pelas artes plásticas.

O Secretário de Estado da Cultura, René Ariel Dotti, e Francisco Souto Neto.

O programa contará com três partes: uma discursiva, com comentários aos eventos artísticos ocorridos na semana; uma de entrevista com artista plástico; e a última divulgando os acontecimentos previstos para os dias seguintes, tais como aberturas de exposições e similares. Os assuntos poderão ser entremeados com músicas.

O programa inaugural levou ao ar uma entrevista com o artista plástico Cláudio Seto, que está expondo na Galeria de Arte Nini Barontini. Selecionei músicas de Caetano Veloso, além de Béla Bartók como pano de fundo, bem como Dave Brubeck com o seu Blue Rondo a La Turk que é o tema para a abertura e fechamento do programa.

O espírito e os propósitos do novo programa são os mesmos desta coluna: a ars gratia artis. Ou seja, trata-se de um programa independente, aberto aos artistas plásticos, com o objetivo de divulgar, comentar e recomendar os principais acontecimentos artístico-culturais. Está, como também esta coluna, aberto aos artistas consagrados do Paraná e de Curitiba, mas também, e principalmente, aberto aos artistas iniciantes, porém talentosos, que estão à espera de oportunidades para divulgar a sua obra e falar sobre a mesma.

Mais ainda, e repetindo: tal como esta coluna, o “Programa Expressão & Arte de Souto Neto” está à disposição dos museus, das salas oficiais estaduais e municipais, das galerias de arte particulares, dos ateliês e, sobretudo, do artista plástico que é o mais importante dentro deste contexto, porque é ele quem move a engrenagem do mundo da arte.

O segundo programa, levado ao ar no dia 28 do corrente, entrevistou o artista plástico Jorge Alberto Remes, que está expondo na Galeria de Arte Banestado, e prestou uma homenagem a Vinícius de Moraes. A propósito, a Casa Romário Martins está com a exposição “Presença, Poesia e Canção”, com fotos da vida e obra do “Poetinha” falecido há exatos dez anos.

O Programa Expressão & Arte vai ao ar todos os sábados, das 11:30 às 12:00 horas, pela Rádio Estadual do Paraná, 630 KHz.

Ilustração: O Secretário de Estado da Cultura René Dotti com Francisco Souto Neto.

Jorge Alberto Remez na Galeria Banestado

Jorge Alberto Remez, que é também advogado e professor, formou-se em 1952 na primeira turma da Escola de Música e Belas Artes do Paraná. Teve aulas com Guido Viaro, Poty e Traple, dentre outros. Nunca pôde dedica-se à arte em tempo integral, porque seus compromissos profissionais o impediam.

Assim, pintava nos finais de semana, quando então dedicava-se com afinco à arte e à pesquisa. Algumas vezes sua pintura foi até interrompida, como na ocasião em que Remez, com um amigo, resolveu construir um barco. Tal atividade, executada em finais de semana, levou mais de três anos. O barco navegou…. e só então o artista voltou aos pincéis.

Remez está expondo seus óleos sobre telas, desde a última quarta-feira, na Galeria de Arte Banestado (Rua Marechal Deocoro, 333). São principalmente naturezas-mortas, com flores. Mas há também paisagens. O artista obtém bons efeitos de sombra em contraluz, através de tons suaves. Remez distorce a perspectiva intencionalmente, assim como também os planos onde se assentam garrafas em desalinho, conseguindo assim um resultado interessante e criativo. Diz ele que após passar por todas as fases do aprendizado, desenvolvimento e lapidação, o artista pode exercer a liberdade nas suas concepções. E acrescenta que a pintura não é uma finalidade, mas um meio, e que não acredita que a expressão artística já esteja pronta no pintor, mas que o desenvolvimento interior é necessário, e tem que ser exteriorizado.

Uma das telas homenageia os peixes no aquário, de Matisse. E se às vezes Remez se identifica com o citado pintor, nos contornos que, por exemplo, dá às frutas, ele exercita sempre e apenas a sua própria linguagem, usando até do gestual na superfície dessas telas.

Há também uma interessante sequência de paisagens curitibanas, com os casarios baixos em primeiro plano, e os paredões dos opressivos arranha-céus ao fundo, tão característicos em Curitiba, onde os espigões se concentram ao longo das ruas por onde passam os “ônibus-expressos”, já que ali o gabarito é sempre livre para as altas construções.

Recomendo a bonita obra de Jorge Alberto Remez, à disposição dos colecionadores e admiradores de arte, na Galeria Banestado, até dia 10 de agosto.

Ilustração: Obra de Jorge Alberto Remez.

Reaberta a Sala de Arte do SENAC

Após permanecer por muito tempo fechada, cerca de dois anos, foi reaberta a Sala de Exposições do SENAC (Rua André de Barros, 750), com uma individual de Josane Andreatta Cavallin, que mostra paisagens, naturezas mortas e flores, sob o título “Inspirações paranistas”.

É muito importante que espaços de localização nobre não fiquem desativados! Qualquer empresa que dê atenção à cultura, só pode merecer aplausos. Afinal, as grandes nações estão assentadas sob a tríade saúde, educação e cultura. É preciso valorizar e respeitar todos os tipos de manifestações artísticas, e saber conviver com os extremos da arte, desde a tradicional (tal o caso da artista que reinaugura o espaço) à de vanguarda. A arte é sempre bem-vinda, e deve vir sem mecanismos de censura, aberta, livre, não dirigida. Podemos gostar mais de um estilo, e menos de outro, mas importa é que o artista crie, crie sempre, e conforme sua própria visão de arte.

Tenho um especial carinho pela Sala de Arte do SENAC, e explico a razão: quando em 1983 criei o SBAI – Salão Banestado de Artistas Inéditos, tive sérias dificuldades para encontrar um espaço onde realizar o evento. É que todas as salas de Curitiba estavam com os seus cronogramas e calendários comprometidos, e ainda não existia a Galeria de Arte Banestado, que seria o domicílio mais lógico para se realizar um Salão Banestado, tal como ocorreu nos anos seguintes.

Foi então que obtive, graças ao Dr. Cristófis e ao Professor Luiz Fernando, o espaço da Sala de Arte do SENAC, onde o primeiro Salão Banestado instalou-se  e foi inaugurado em grande estilo, com um coquetel realmente memorável. O diretor do Banestado que me deu todo o apoio para que o Salão se realizasse foi Octacílio Ribeiro da Silva, e também a Associação Banestado representada por Wilson Ganem, que deu o apoio financeiro.

Por tais motivos, o retorno da Sala de Arte do SENAC à atividade, é motivo auspicioso. Parabéns ao Dr. Cristófis e a todo o pessoal que lutou pela reconquista de tal espaço.

Ilustração: Inauguração do 1º Salão Banestado, em 1983, na Sala de Arte do SENAC.

José Augusto Cunha: abstrações

O jovem proprietário da Galeria J. Cunha Arte e Decoração, José Augusto Cunha, está realizando a sua primeira individual, que foi inaugurada na semana passada no SESC da Esquina, na Rua Visconde do Rio Branco, 969, 4º andar.

Cunha pinta há pouco tempo, mas já consegue exibir um resultado adulto, vigoroso e equilibrado. Trabalhando com óleo sobre tela, ocupa-se do abstrato com cores fortes e gestos firmes. Vale-se do pincel e espátula, exercendo a gestualidade às vezes com a bisnaga diretamente sobre a tela. Contudo, há placidez e serenidade ao fundo. O resultado, ainda que abstrato, de algum modo e pela imaginação, nos reporta a grande massas metálicas, como que robotizadas, em gravitação cósmica. Há nas telas um ar de cibernética.

No catálogo, Carlos Abel Fiurucci diz: “Podemos, sem medo de pecar por exagero, afirmar que nasce, para ocupar um lugar de destaque no cenário artístico paranaense, um pintor de rara qualidade”, enquanto Edilson Viriato diz: “Sua arte merece ser sentida, pois tem uma relação inseparável entre o gesto e a cor”, e Dalla Vecchia conclui poeticamente: “Abstrato não precisa ser; o é por si só. Traduz sonhos imaginários, traduz criador, língua e cromo, janela de universo”.

A exposição prosseguirá até ao próximo dia 31.

Ilustração: O artista plástico José Augusto Cunha.

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Sobre francisco souto neto

ATENÇÃO! CUIDADO! EM 17.4.2021 FORAM FURTADOS MEUS DADOS PESSOAIS (FRANCISCO SOUTO NETO): CPF, IDENTIDADE, DADOS BANCÁRIOS. EU NÃO FAÇO EMPRÉSTIMOS NEM FINANCIO NADA. NÃO COMPRO A PRAZO E NÃO UTILIZO CARTÃO DE CRÉDITO. QUALQUER TENTATIVA DE CONTRATOS EM MEU NOME, FAVOR CHAMAR A POLÍCIA. O comendador Francisco Souto Neto trabalhou no extinto Banco do Estado do Paraná S.A. até aposentar-se, onde exerceu as funções de inspetor, assessor da diretoria, da presidência e para assuntos de cultura. Filho do jornalista e radialista Arary Souto (1908-1963) e Edith Barbosa Souto (1911-1997), é advogado, jornalista e crítico de arte, com colunas em jornais e revistas desde os anos 70. Tem integrado diretorias e conselhos consultivos e administrativos de diversas entidades, sobretudo de órgãos oficiais ligados à cultura paranaense. Foi-lhe outorgado o título de Comendador pela Associação Brasileira de Liderança (São Paulo). Recebeu o "Troféu Imprensa do Brasil 2014" e também o "Prêmio Excelência e Qualidade Brasil 2015" na área da Cultura, como “Destaque entre os melhores do Brasil”. Em novembro de 2016 recebeu mais uma vez o Troféu Imprensa Brasil, seguido do Prêmio Cidade de Curitiba, e ainda do Top of Mind Quality Gold. É membro da Academia de Letras José de Alencar, em Curitiba, onde ocupa a Cadeira Patronímica nº 26.
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